terça-feira, 29 de março de 2016

Entre o paracetamol e o ácido
acetilsalicílico, quantas horas de sono
são necessárias ao poema?

Mas no Facebook
nenhum estudo científico responde ainda
a esta pergunta.

E o que eu preciso é de uma solução
melhor para um texto que não encontro
neste verso metaquotidiano,

nem entre as peças do Lego
e a boneca meio despida
e o livro de animais
e os pedaços de bolacha
com que a minha filha insiste

cobrir o teclado do instante.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Ei-los, os caçadores,
tão redondos nos seus gestos,
as flechas apontadas,
os músculos retesos,
atentos.

Mas a morte chega sempre
de onde não se espera.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Cegam os olhos no movimento
furtivo: uma asa apenas
um ângulo de sombra
acima da linha de água,
ou o que era
                um náufrago.
Quero um poema
que me caiba no bolso, inteiro
como um ovo,

não este vaso que não era
de dinastia nenhuma, em pedaços
tantos que só

sílaba a sílaba recupero
os filamentos, memória do que
breve me salvou.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Durante muito tempo pensei
que a solidão se devia
a esta ou aquela
indeterminada
circunstância.
Enganei-
-me.